Alvo Severo e o Segredo da Víbora (Capítulo 15)

Capítulo XV – A Prisioneira de Azkaban


Mais um sol clareava a nublada manhã em Cedric’s Hollow, e logo cedo, o filho do meio dos Potter se levantava de sua cama, num bocejo longo. A manhã estava fria e silenciosa, embora a claridade já entrasse pelas janelas. Provavelmente o elfo Monstro já as abrira, para entrar ar e claridade. Era manhã de Natal, e como todos os anos de Alvo em Cedric’s Hollow, ele se levantaria, desceria as escadas eufórico e rasgaria a embalagem de mais um presente que o Papai Noel lhe trouxera.

Ao se levantar, a primeira coisa que o garoto fez foi urrar de dor, pois pisara bem no cabo da espetacular vassoura que sempre estava jogada abaixo de sua cama. Muitas pessoas poderiam condenar o ato de Alvo Severo ignorar ter a posse de nada mais nem menos do que a melhor e mais famosa vassoura de toda a Grã-Bretanha.

No Natal passado, Alvo ganhou a tão invejada vassoura, fazendo Tiago, seu irmão, delirar. A Star Generation possuía um design futurista, e seu cabo aerodinâmico incrustado de pedras lunares apresentava uma beleza única, e que aumentava significativamente o custo no mercado. As pedras apresentavam um peso maior à raridade, mas nem por isso a Star era lenta.

Tiago bem sabia disso, pois usara a vassoura durante seu segundo ano letivo todinho na Escola de Magia, o que lhe rendera muitas goleadas para o time da Grifinória. Porém, numa lendária performance da apanhadora da lufa-lufa - que por acaso era prima de Alvo Severo -, Victoire apanhou o pomo de ouro antes mesmo de Tiago poder marcar a primeira pontuação no último jogo de final da Copa das Casas em Hogwarts.

Ao abrir a porta do quarto, uma coisa assustou Alvo: Ed passeava elegantemente pelo corredor iluminado, com uma bola de pêlo na boca. O gato, filhote, era magrinho e branquelo, seus pêlos muito curtos alvejavam o piso acinzentado. Ed passara em frente ao quarto de Alvo, e entrara por uma frestinha no quarto ao lado. Lily já estava acordada, e algumas luzinhas em tons vermelhos passavam pelas frestas de sua porta. Provavelmente já vira seu presente de natal, e já estava se divertindo com ele.

Quando descia as escadas, Alvo viu Monstro arrumando as meinhas penduradas na porta da frente de casa, e deu um “olá” que lhe pareceu mais um bocejo do que cumprimento.

- Hmm... – Alvo procurava seu presente em meio a poucas outras embalagens que atulhavam o sofá da sala. – Tiago.... err, esse não.... Gina.... também não... aqui está! Alvo Severo Potter! Mas que embalagem pequena!

Alvo tirou uma embalagem pequena e roliça do meio das outras, envolta em papel preto com listras amarelas. Havia algo duro lá dentro. Parecia feito de madeira.

- Uma Flauta? – indagou o menino, surpreso. Abrira a embalagem, e o objeto escorregara da embalagem para sua mão. Estava certo, era uma flauta, e era de madeira.

Alvo reparou que a flauta fora feita à mão, e lhe parecia bem velha, embora esteja limpa. Não pôde deixar de reparar que havia uma letra "H", toscamente talhada, próxima ao bocal. Haviam também alguns desenhos de patas no corpo do instrumento que chamaram a atenção de Alvo. Admirou os contornos do objeto por alguns instantes, até ser interrompido pelo irmão, que descia alegre, ansioso para abrir seu presente. Logo depois, o pai de Alvo desceu as escadas, e, ao ver o garoto com a pequena flauta nas mãos, um saudoso sorriso surgiu em seu rosto.

- Feliz Natal Alvo! O que achou do seu presente? - perguntou Harry, se aproximando do filho.

- Uma flauta, papai? Eu não sei tocar flauta. - surpreendeu-se Alvo, olhando para o pai.

- Eu também não sabia tocar quando a recebi, filho. - explicou Harry olhando por cima dos óculos redondos para um curioso Alvo Severo.

- Mas do que vai ser útil uma flauta, então?

- É uma lembrança muito bonita, meu filho. Foi o primeiro presente decente de natal que eu ganhei.

- Uma goles nova, papai! - gritou Tiago, repentinamente, do outro lado do sofá. - Ah valeu papai, agora meus treinos serão bem melhores.

- Quem talhou esta flauta, papai? - perguntou Alvo, ainda curioso.

- Meu amigo Hagrid, o meio-gigante. E acho que ele vai ficar satisfeito de saber que o novo dono é você meu filho.

- Você sabe tocá-la, papai?

- Nunca tentei - respondeu Harry, desapontado com si mesmo. - mas gostaria de saber que meu filho tentou.

- Pode deixar papai - respondeu Alvo orgulhoso - Olha quem vem descendo, pai, é a Lily! Feliz natal Lily!

- Feliz natal Al! O que você ganhou de Natal? - perguntou a pequena e meiga irmã de Alvo Severo, sentando-se no sofá, e se reunindo à família na nublada manhã.

Os Potter ficaram rasgando pacotinhos de todos os tamanhos e revelando seus presentes natalinos por um bom tempo, até o velho elfo aparecer na sala, para chamar a todos para um apetitoso almoço de natal.





Após um almoço muito saboroso e muita conversa, Alvo se lembrou de que teria despachado a alguns dias atrás uma coruja para sua amiga Lysandra, que provavelmente não estaria tendo um natal tão contente. Então, ao ver a coruja da família vir voando com algo preso no bico, Alvo se levantou e abriu a janela da sala-de-jantar, deixando a coruja entrar e largar um pacote na mesa.

Alvo não conseguiu entender. O pacote de bolinhos que enviara à amiga voltara do mesmo jeito que o garoto mandara. Talvez a coruja não tivesse encontrado Lysa, ou talvez simplesmente estivesse velha para entregas complicadas.

- Droga! - resmungou o garoto, pensando no natal de Lysa.

- O que foi querido? - perguntou sua mãe intrigada.

- Nada mãe, nada. - respondeu Alvo nervoso.

- Eu sei o que é. - exclamou Lily, inesperadamente. Alvo olhou para a garota com curiosidade.

- Rose me contou tudo, mamãe - disse a garotinha, incapaz de olhar para Alvo - tem uma garota, que é amiga do Al, e ela tá levando ele para as artes das trevas. Anda enfeitiçando ele de algum modo.

- O quê? - Alvo ficou surpreso de ouvir a irmã falar tanta bobagem.

- Ah, eu sei quem é... - falou Tiago entre risos - É uma garota esquisita. Vive com aquele loirinho maluco e a menina biruta, e, é claro, com o Al. Ah Alvo, a fama de vocês não é das melhores lá na escola não viu. Todo mundo diz que vocês são esquisitos.

- Esquisitos? - indignou-se Alvo - Nós simplesmente não somos babacas exibidos que nem você, o Freddy e aquela Jordan.

- Eu sei o que você sente Al. - respondeu Tiago, se levantando da cadeira muito inesperadamente - Você morre de inveja do nosso trio. Nós somos os mais populares da escola, e todo mundo se dá bem conosco. Já os doidões do castelo...

- Parem com isso agora! - exclamou Harry, alteando a voz - Alvo e Tiago, sentem-se.

Tiago sentou-se, emburrado, mas Alvo continuou em pé.

- Obedeça seu pai, Al - disse Gina para Alvo, mas este se recusou.

- Não vou me sentar com vocês. - a mão de Alvo vacilou, e foi em direção ao bolso da calça onde estava sua varinha. - Pra mim já chega. - e voltou-se para a irmã - De você eu não esperava isso, Lily.

Alvo saiu da sala-de-jantar e saiu pela porta para uma melancólica tarde de natal. Seus amigos, Escórpio e Ana estavam com os primos do loiro, mais adiante. Jogavam Snap explosivo animadamente ao lado de um arbusto florido.

- Feliz Natal Al! - cumprimentaram os amigos, ao verem o amigo se aproximar. Traziam uma cesta nas mãos, e pelo que Alvo podia ver, estava abarrotada de sapos de chocolate.

- Este é o nosso presente para você, Alvo - disse Anastácia Scamander, oferecendo a cesta ao amigo. Os irmãos MacLaggen ficaram para trás, entretidos com o jogo.

- Vamos dobrar sua coleção de figurinhas... é, meu amigo, acho melhor você começar a trocar as figurinhas com o pessoal, senão não vai agüentar levar sua caixinha para Hogwarts. - falou Escórpio, convidando Alvo com um gesto a se juntar aos MacLaggen.

Alvo colecionava figurinhas de sapos de chocolate desde pequeno. Possuía uma caixinha de madeira onde tinha um arsenal com um número realmente alto delas. Gostava de conhecer os grandes nomes da bruxaria, e sempre as revia, quando não tinha nada para fazer. Em Hogwarts, nunca tentara trocar nada, pois se limitava ao grupo de amigos de sua casa. Era tímido, e poucas pessoas o viam como uma pessoa boa para ter como amigo.

- O que é isso, Al? - perguntou Anastácia, referindo-se à flauta, que estava embrulhada e enfiada no bolso da frente.

- Meu presente de natal. É uma flauta. Foi do meu pai, e quem a fez foi o Hagrid. - explicou o amigo, se juntando ao jogo.

- Interessante... E você sabe tocar, Al? - perguntou Escórpio, tentando adicionar uma carta do Snap na torrinha que construíam.

- Nunca tentei - respondeu Alvo, rindo-se a valer, ao ver o amigo derrubando a pilha de cartas, que explodiram fazendo fumaça de cinzas que não queimavam para todo o lado.





Após a passagem do Natal, finalmente chegava o dia em que Alvo e todos os outros alunos regressariam à escola. Alvo acordou cedo para arrumar suas coisas, e a primeira coisa que viu foi a flautinha de madeira tosca que ganhara do pai, numa mesinha de quarto ao lado de sua cama.

Ainda não tentara tocar, e agora seria uma boa hora para experimentá-la. O gato de Lily, Ed, estava passeando pelo quarto de Alvo, e parou para ouvir a melodia.

Alvo encostou a flauta em seus lábios, e começou com um leve assopro, que deu início a sua confusa melodia. A flauta tocava em um som baixinho e suave, que lembrava um pio de coruja. Alvo tocava o instrumento e melhorava cada vez mais seu desempenho, e sem se dar conta, ficou tocando por quase dez minutos no mesmo pio. Pelo jeito, Ed não gostara muito do som, porque adormecera ao pé de Alvo, e precisou ser empurrado para levantar e rumar para o quarto ao lado, onde Lily o chamava.

Algum tempo depois, Alvo desceu com o seu malão para a sala, onde Tiago aguardava no sofá, ao som de uma discussão entre Harry e Gina, por causa de alguma notícia que saíra no Profeta Diário.

- Mas como ela conseguiria, Gina? - discutia Harry, a altos brados - Tudo bem que não há dementadores, mas os guardas também não são completos inúteis.

- Harry, essa é mulher é perigosa, e te odeia. - dizia Gina, insistentemente.

- Ela não teria coragem de enfrentar o chefe da Seção de Aurores do ministério, ou teria? - rejubilou-se o pai de Harry, caçoando da foto de alguma mulher muito mal arrumada na página do jornal.

- E Hermione? Imagino que ela já tenha sabido. Oh, ela deve estar preocupadíssima. - Gina estava nervosa, e o marido tentava acalmá-la.

- Hermione não tem medo dessa gárgula! - disse Harry pensativo.

- Mas eu tenho! Você e eu sabemos do que ela é capaz, Harry. E ela simplesmente odeia a nossa família.

- Ela que tente algo com meus filhos! - ameaçou o pai.

- Posso saber de quem vocês tanto falam? - perguntou Alvo, interrompendo a discussão e pegando a folha do jornal em cima do console.

Na capa do Profeta Diário, havia uma foto realmente grande de uma mulher gorda e um tanto excêntrica. Suas vestes eram felpudas e espessas, mas estavam esfiapadas e um lacinho imundo prendia seus cabelos meio desgrenhados.

Era baixinha e seu olhar denotava profundo ódio. Estava sendo segurada por dois bruxos fortes, que a erguiam do chão o suficiente para suas delicadas sapatilhas sequer roçarem o chão de pedra da Fortaleza de Azkaban. Acima da foto, a manchete informava:

"DOLORES JOANA UMBRIDGE, A MAIS NOVA FUGITIVA DE AZKABAN"

- Quem é essa tal de Umbridge, mamãe? - perguntou Alvo, percebendo que a mulher representava algum perigo à sociedade somente por seu olhar maléfico.

- Uma mulher horrorosa, que chegou a diretora em Hogwarts - respondeu a mãe, ainda preocupada - Não sei como, mas conseguiu fugir da prisão. Seu pai vai ao ministério cuidar do caso, e quem vai levá-los à estação hoje sou eu.

- Ela pratica artes das trevas? - perguntou Alvo, curioso.

- O poder de Umbridge estava em sua influência ministerial, na época de Fudge. Mas estamos salvos disto com Shacklebolt. - explicou Harry, pegando um punhado de pó de Flu e jogando na lareira - O Ministro nunca foi com a cara da Umbridge, e nunca ouviria nada vindo dela. Tchau, e boa viagem para Hogwarts - e desapareceu por trás das chamas esverdeadas da lareira.

- Vamos? - perguntou Gina, seu olhar meio vago.





Quando chegaram na estação, os Potter, com exceção do Potter pai, atravessaram a plataforma nove e meia e logo encontraram os pais de Rose e Hugo. O tio Ronald avançava a estação alegremente conversando com o filho caçula, enquanto Hermione mordia os lábios de mãos dadas com Rose.

- Gina, como vai? Receio que já esteja sabendo... - cumprimentou a tia preocupadamente.

- Já sim! - indagou a mãe de Alvo, correspondendo preocupação - Harry foi cuidar do caso no ministério, e pensei que Rony também tinha de aparecer por lá.

- Não, não Gina, não ia perder a chance de deixar Rose no trem. E a sapa velha não é tão preocupante assim, ou é? - Rony tinha um tom de gozação quando se referia à mulher horrorosa que Alvo vira no jornal.

- Ronald, por favor, aquela mulher nos odeia. Ou você esqueceu que eu fui a principal responsável por trancafiá-la todos esses anos em Azkaban. - disse Hermione, muito sensata, apesar das preocupações - Ela tinha contatos úteis que a defendiam no tribunal, e se não fosse eu apresentando todos os argumentos para o ministro, ela se safaria.

- Se safar? Dolores Umbridge nunca se safaria. Não com Rony e Harry na Seção dos Aurores, pelo menos. - disse Gina, tentando disfarçar a preocupação.

Hugo e Lily se juntaram e iam se sentar mais distantes, numa conversa animada. Alvo aguardava com a mãe, ouvindo a conversa dos tios atentamente, e Tiago provavelmente já estava à bordo do Expresso. Rose acabava de ver uma amiga chegando, e foi de encontro a esta, cumprimentando-a.

- Eu sei que temos que investigar incansavelmente o que Umbridge fez para conseguir fugir da prisão. - discutia Hermione, energicamente - Eu diria que tem algo a ver com corrupção. Maldita Gárgula! Sempre teve seus contatos confiáveis... Troca de favores... Aposto que alguém de Azkaban devia algo para ela...

- Bom, só podemos especular, não? - concordou Gina.

Naquele momento, uma visão desfocou Alvo totalmente da tia e da mãe. Uma garota de cabelos longos e lisos, embora muito escuros acabara de entrar na estação, sozinha, com seu malão surrado e vestes muito amassadas. Havia uma grande marca roxa que Alvo não reconheceu no momento, e, ao se aproximar, percebeu que era um grande hematoma de algo que parecera alguma pancada realmente dolorosa.

- Ei Lysa! O que é isso? - perguntou o garoto, ao correr em direção da garota. Um ar sombrio escondia seu rosto, e os cabelos escondiam metade de sua face.

- Me deixe, Al - respondeu a garota sem desviar o olhar. Sua voz era de inconfundível choro reprimido.

Lysandra continuava a andar na direção do trem, e, na aglomeração de alunos, Alvo a perdeu, muito confuso. Seus pais tinham feito alguma covardia com a garota, e isso era imperdoável. Alvo não se contentava em saber que poderia ter um natal tão aconchegante em seu casarão e uma garota como Lysa teria de agüentar o inferno que era viver com os pais.

Então, o próximo barulho que ocorreu, fez o garoto sobressaltar-se. Um som ensurdecedor de algo pesado caindo com estrondo e muita poeira.

Hermione corria e gritava na aglomeração de pais, acompanhada de Gina. As duas estavam descontroladas, e de cada um de seus lábios saíam sons diferentes. Hermione gritava por Hugo, e Gina, por Lily. Os primos haviam sumido, e uma coluna da estação havia sido explodida. Demorou alguns segundos para Alvo absorver a informação, mas ao ouvir a tia gritar o nome da fugitiva, entendeu tudo.

Hugo e Lily haviam sido seqüestrados, pela prisioneira Dolores Umbridge.

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