Alvo Severo e o Segredo da Víbora (Capítulo 14)

Capítulo XIV – Um natal muito “Dursley”

Alvo Severo pensara que seu natal iria ser intensamente chato sem os melhores amigos por perto, mas em pouco tempo percebeu que estava errado. Sempre fora tímido e quieto, mas Hogwarts despertara uma animação oculta dentro de si, e ele sabia que tinha tudo para passar um natal muito alegre ao lado de sua família.

O pai de Alvo lhe abarrotava de perguntas todos os dias sobre o trimestre na escola, e o garoto estava tão próximo de Harry quanto nunca esteve antes. O pai e o tio Rony passavam mais tempo dentro de casa com Alvo ao crepitar da lareira do que com Tiago, que divertia-se jogando bolas de neve nos vizinhos e amigos.

Os Weasley estavam sempre por lá, embora Rose estivesse evitando Alvo, preferindo a companhia de sua irmã. Lily, Rose, Hugo e Colin ora participavam das lutas de bola de neve, ora podiam ser vistos sentados conversando no centro da vila. Colin também não viera falar com o amigo , e isso incomodava Alvo, que não compreendia a revolta.

Naquele dia, os tios Gui e Fleur, juntamente com a filha mais velha foram a Cedric’s Hollow, a fim de despedirem-se dos Potter, pois iriam à França visitar os irmãos de Victoire, que estudavam na Escola de Magia e Bruxaria Beauxbatons. Chegaram cedo, e Alvo acordou com a voz suave de sua prima, no patamar abaixo.

Alguns minutos depois o garoto se revirou na cama para ver o dia no calendário preso à porta. De um salto levantou-se, surpreso ao ver que o calendário trazia o dia 24 pintado magicamente. Era encantado para brilhar em dias comemorativos. Uma bonita lembrança dos amigos inundou a mente de Alvo, que saiu do quarto e desceu para a sala-de-estar, depois de se trocar. No corredor, passou por Ed, o gato, que ronronava brincando com um emaranhado de lã escarlate. Na sala, seus pais conversavam animadamente com os pais de Victoire.

- Bom dia Al! Como vai? – disse Victoire, ao ver o primo descendo as escadas.

- Bom dia prima! Vou bem... e vocês? – indagou o garoto.

Neste momento, Tiago surgiu no corredor que levava à cozinha.

- E o professor Teddy, Victoire? Como ele vai? – perguntou Tiago entre risinhos.

Victoire exibiu um largo sorriso e respondeu com fingida timidez.

- Estamos muito bem também! Ele é maravilhoso! Inclusive, tomou uma bronca feia da diretora quando ela nos pegou juntos...

Alvo não estava prestando atenção, pois acabara de ouvir uma voz muito familiar, então correu para a porta da frente e abriu-a. Será? Não podia acreditar...

Indiscutivelmente eles estavam lá. Escórpio Malfoy estava lívido de raiva, acompanhado de perto por Anastácia, que tentava acalmá-lo. Rose Weasley estava em frente à casa de Alvo, juntamente com Colin e Lily. Brigava com o loiro, berrando a plenos pulmões, dizendo para ir embora.

Quando a dupla viu Alvo abrindo a porta, um sorriso de satisfação apareceu em seus lábios, e Alvo correu ao encontro dos amigos, enterrando fundo os pés na espessa neve da rua. Rose chamou Alvo, que a ignorou para se juntar a Malfoy e Scamander. Escórpio debochava da prima de seu amigo, enfurecendo Lily e Colin. Hugo, que estava sentado mais atrás, levantou-se inconformado. O loiro puxava Alvo e Ana para longe.

- Você estava pensando em passar o natal longe de nós, Al? – perguntou Malfoy animadamente.

- Esperem um pouco. Como vocês chegaram aqui? – perguntou Alvo, ainda surpreso, porém feliz.

- A tia do Corp é sua vizinha, Al! Não é genial? – disse Ana olhando para Alvo com seus olhos saltados de constante surpresa.

- Vizinha? Como assim? Quem é a sua tia, Corp? – perguntou Alvo confuso.

- A Sra. Malfoy é irmã de Daphne MacLaggen – explicou Ana ao ver Escórpio abrir a boca.

- Você é parente dos MacLaggen? Quer dizer, do Beto e da Mirza? – perguntou Alvo, desejando que desta vez o loiro o respondesse.

- Eles são meus primos, oras! – respondeu Escórpio, impedindo Anastácia de se interpor.

- Nós estamos na casa deles, embora o Sr. Malfoy não vá muito com a cara do cunhado. – disse Ana, satisfeita de expor sua opinião.

- A Mirza é da turma da sua prima, aquela... – começou Escórpio. Um risinho desdenhoso e satisfeito demonstrava o prazer que sentia de brigar com a arquiinimiga.

- Pode ir parando por aí! – Alvo interrompeu-o – Que vocês briguem tudo bem, mas não venha trazer isso para nossas conversas.

- Até que a Rose parece uma pessoa legal, Corp. Ao menos sensata, ao contrário de você. – disse Ana, rindo do amigo.

- O que? Aquela sujeitinha nos odeia, e você ainda quer defendê-la? – disse Escórpio indignado.

- Eu já avisei Corp. Estou sem falar com a minha prima, e é por sua culpa.

- Não, não, Al. Você sabe porque sua prima e o Colin estão te evitando, e Corp não tem nada a ver com isso. – corrigiu a loira. Seu olhar deteve-se no bolso do garoto. Parecia procurar algo.

- Se você estiver falando do que ocorreu com o Colin na aula... – Alvo irritou-se.

- Ora, Alvo, o Colin não ficou todo machucado por nada! – debateu Ana com cuidado.

- Aquele feitiço não saiu da minha varinha! E esperem um pouco... Minha varinha! Eu a esqueci. Tenho que buscá-la. Esperem aqui, já volto. – Alvo saiu correndo, e deixou os amigos sentados nos bancos cheios de neve na praça.

- Mas Al... Para que a varinha agora? – a voz de Malfoy foi ouvida pelo garoto ao entrar em casa, exasperado.

- Oi Al, aonde vai com essa pressa, menino!? – perguntou Gina, ao ver o filho passar correndo pela sala.

Ao entrar em seu quarto, Alvo viu primeiramente que não estava sozinho. Tiago, seu irmão, estava sentado na cama do sonserino, e, em sua mão estava ela. Cada adorno rúnico cintilando à luz solar, que banhava o quarto através da janela aberta.

- Ei! O que está fazendo? Quem te deu permissão para tocar em minha varinha? – enfureceu-se Alvo.

Tiago não desviou os olhos. Admirava a varinha cor de vinho, muito escura.

- Tiago, solte a minha varinha agora! – ordenou o sonserino, odiando cada dedo do irmão fechado em torno da varinha.

- Ela é tão... tão... bonita... - disse o grifinório muito lentamente. Seus olhar não abandonava o objeto nem por um segundo.

- Eu sei o que ela é. Ela é minha! – berrava o sonserino. Imagens da mão do garoto queimando em brasas passavam pela cabeça de Alvo.

- Deixe-me experimentá-la, Al. Deixe-me usá-la, por favor. Só uma vez... – Tiago se recusava a olhar para o irmão.

- Me dê ela agora! – gritou o sonserino mais uma vez, indo para cima do irmão.

Então... a porta se escancarou, despertando Tiago do transe.

- Ei meninos, vocês estão brigando? O que é isso? – a tia de Alvo, Hermione entrara no quarto. Alvo continuou a gritar para o irmão.

- Pare com isso Alvo! Está assustando seus tios lá embaixo. – continuou a tia – Tiago, entregue a varinha para mim.

- Não tia.

- O que? Tiago, vou chamar seu pai...

- Não vou entregar a ele também. Quero experimentá-la. – teimou o sobrinho, girando a varinha nos dedos.

- Você sabe que não pode executar feitiços fora da escola, Tiago. – falou a tia estudando a situação - Vai complicar a situação de seu pai no ministério, pare com isso e entregue a varinha.

Alvo percebeu um sinal de medo em Tiago. Nunca havia acontecido alguma situação em que Tiago demonstrasse medo. Em geral ele fazia coisas sem pensar em conseqüências.

- Rictumsempra! – bradou Tiago, direcionando a varinha para a tia.

Hermione deu um salto para o lado e o feitiço errou seu rosto por pouco. Atingira uma estante de velhos brinquedos de Alvo, fazendo-os voar para todos os lados.

- Expelliarmus – gritou Hermione. O feitiço atingiu a mão de Tiago, e a varinha de Alvo Severo foi retirada da mão do outro. Caíra com um baque leve do outro lado da cama.

O dono correu para sua varinha, e a apanhou. No momento em que seus dedos se fecharam em torno da madeira “nem tão maleável, nem tão rígida, porém muito leve”, Alvo sentiu um alívio profundo. Estava seguro agora, e não permitiria que ninguém se apossasse de sua varinha.

- O que está acontecendo aqui? – Harry entrou no quarto, surpreso ao ver Hermione levantando-se do chão, repleto de brinquedos – Eu ouvi feitiços. Estamos numa casa ou num clube de duelos?

- Boa papai! Vamos abrir um clube de duelos! – disse Tiago animado. Mudara da água pro vinho ao ser desarmado.

- Tiago! Isso não tem graça! – disse Hermione irritada – Você me atacou a pouco, e agora está assim?

- O que você fez Tiago? Atacou sua tia? Você não pode...

- Tudo bem, Harry, estou bem.

- Mas...

Alvo não queria participar da discussão, então, de fininho deixou o quarto e saiu de casa sem responder as insistentes perguntas da mãe, que aguardava na sala com os convidados.





- O seu irmão atacou sua tia? Enquanto empunhava a sua varinha? – perguntava Anastácia, após o amigo ter explicado tudo que se sucedera no quarto – Muito suspeito...

- Não há nada de suspeito nisso! – ralhava Alvo com a amiga - Só que o meu irmão é um imbecil cabeça-dura que adora se meter no que não é da conta dele.

- Se eu não te conhecesse diria que morre de inveja do irmão... – disse Escórpio com ar de deboche enquanto se sentavam.

- Ah é, senhor Escórpio? E se eu não te conhecesse, diria que morre de amores pela Rose – retrucou Alvo, arrancando gargalhadas de Ana.

- Rose? Sua prima me enoja, Al. Ela não passa de uma preconceituosa metida a besta. – disse Escórpio com escárnio.

- Vamos parar com isso, okay? – interrompeu Ana sensatamente – O caso é que há algo muito esquisito com essa sua varinha, e temos que descobrir.

- Ana, amanhã é Natal! Não temos tempo para investigar nada hoje, então vamos deixar isso para depois – falou Malfoy olhando para trás. Alguém se aproximava em passos fundos na neve.

Beto e Mirza MacLaggen estavam se aproximando, até interromperem a conversa.

- Escórpio, papai está te chamando para o almoço. Você e sua amiga – disse o garoto com feições carrancudas.

- Está bem Beto, já vamos. Até mais tarde, Al – disse o amigo desanimado.

- Acho que não vai dar para nos vermos mais tarde, Corp. Nós vamos visitar um primo do meu pai. Eles não se vêem há muito tempo, sabe. E... e... eles são trouxas. – disse Alvo mais desanimado que o loiro.

- Feliz natal, então, Al! E boa sorte com os trouxas! – falou Anastácia não tão desanimada.

- Digo o mesmo. – concordou o amigo, se levantando com Ana e indo para a casa de sua tia, atrás dos primos.





Após ter passado a tarde com os amigos, Alvo teve de ir se arrumar para saírem. Os Potter vestiram-se de trouxas para irem à ceia natalina, e Harry parecia entender bem das esquisitas vestimentas, pois estava usando um terno e uma gravata dignos de admiração de Artur, o avô de Alvo. O garoto também teve que vestir um terno, e se sentia bem desconfortável dentro das vestes.

Tiago achava engraçado ficar puxando a sua gravata e as dos outros. Gina estava com um belo e longo vestido roxo, muito chamativo e um pouco justo. Era presente do marido, que precisou de uma ajudinha da amiga Hermione para a escolha. Lily, que estava usando um conjunto vermelho não parava de chatear o pai, pedindo para poder levar Ed, seu pequenino gatinho para o encontro.

- Não podemos levar animais, Lily. Tia Petúnia os odeia, e ela pode estar lá. – respondia o pai.

Chegaram à estação de trem com o dia já escurecendo, e desembarcaram numa outra estação muito parecida. Alvo ficou encantado com as estruturas metálicas gigantescas, e com o sistema de tickets das catracas.

A família pegou um ônibus trouxa e desceram num monótono bairro de subúrbio, repleto de casas quadradas e muito iguais. Em geral, todas tinham uma garagem, carros coloridos à frente e um jardim de arbustos, além da forma quadrada.

Então eles passaram por algumas ruas, até Harry parar de chofre em frente a uma casa igual a tantas outras.

- Estão vendo essa casa? – disse saudoso - Era da Sra. Figg, que certa vez me ajudou muito em um julgamento no ministério. Depôs a meu favor.

Os Potter dobraram mais duas esquinas e entraram na Rua dos Alfeneiros. As casas continham decorações com pisca-piscas de todas as cores e formas. Logo na esquina, havia um barzinho sujo, o qual o pai de Alvo não reconheceu, então os cinco se aproximaram do local para darem uma olhada.

Havia um bando de maltrapilhos malvestidos e cambaleantes. Cada um tinha uma latinha na mão e rostos mal encarados. Quando Harry e a família se aproximaram, um deles, que tinha cara de rato valentão, apesar de magricela parou de rir com os amigos, olhando para a cara do pai de Alvo.

- Harry Potter? – disse o maltrapilho encarando o pai de Alvo – Não posso acreditar que você é aquele garoto maluco que morava com os Dursley. Olhe Malcolm, quem apareceu aqui no bar, venha ver. – um homem gordo e feioso se levantou para dar uma espiada indiscreta nos Potter.

- Pedro Polkiss – falou Harry sério – Vejo que minhas expectativas sobre você se concretizaram. Um bêbado inútil de esquina. Ainda agarra criancinhas desavisadas por aí, Pedrinho? – o pai de Alvo olhava para o homem e os seus amigos como se eles fossem montes de dejetos fedorentos num lixão.

- E você, Potter? Ainda passeia em carros voadores? Ou você acha que o Duda não me contou nada no dia seguinte? E ainda liberta cobras de zoológicos por aí? E quem são esses com você? Vai dizer que são sua família?

Pedro riu do rosto assustado de Lily. Gina tentava conduzir o marido para fora do local. Alvo estava vendo um homem particularmente nojento arrotar alto, arrancando risadas dos outros.

- Carros voadores? – respondeu Harry com selvageria – É, Pedrinho, acho que agora podemos perceber quem é o maluco por aqui. E sugiro que lave sua boca para falar de minha família.

Vários dos maltrapilhos debocharam de Polkiss, que começou a brigar com cada um. Tiago colaborou com as risadas, parabenizando o pai. Harry cedeu e levou a família adiante.

- Quem são aqueles idiotas, papai? – perguntou Tiago ao passarem direto pelo número onze.

- Panacas que andavam com meu primo na nossa infância. – respondeu Harry prontamente.

- Seu primo é como eles, papai? - perguntou Lily preocupada.

- Espero que não tenha chegado a esse ponto, filha. – respondeu o pai ao passarem pelo número seis.

Quando chegaram ao número quatro, Harry parou para admirar a casa, que era idêntica a tantas outras na rua. Haviam luzes acesas e um gritinho fino e feminino podia ser ouvido de longe.

- Chegamos à casa dos Dursley, é aqui.

Harry passou pelos arbustinhos muito bem cuidados e pressionou um botãozinho ao lado da porta. Um “ding-dong” tocou em algum lugar, Tiago arrancou uma folha do arbusto, e a porta se escancarou.

Uma magra mulher , de cabelos louros muito lisos e curtos abriu a porta com um sorriso nos lábios maquilados com batom extravagante.

- Boa noite – disse, esgueirando-se pelo hall – Vocês devem ser os Potter. Entrem, por favor, e sejam bem-vindos. – a mulher tinha um tom de quem passou horas treinando para apresentar os cumprimentos.

- Muito obrigada! – respondeu Gina com simpatia – Vamos crianças, vamos entrando – Tiago, pare de mexer nas flores.

Os Potter entraram no hall, repleto de vasinhos de parede e de teto, e Alvo pôde ver uma garota baixinha e gorducha, que berrava para o pai.

- Ah Duda, como vai? – seu pai cumprimentava o pai da garota, enquanto Gina abria conversa com a Sra. Dursley. A garota sentou-se, chateada com o pai.

- Harry! Há quanto tempo... Essa é minha esposa, Eleonor, e minha filha, Isla. Mamãe já está descendo, ela está no telefone com uma amiga. – explicou Duda.

Alvo teve a impressão de que o Sr. Dursley fosse mais simpático que a mulher, que não escondia o fingimento na voz. A garotinha Dursley parecia estar querendo armar um ataque de nervos, e Tiago olhava para ela com um risinho malicioso que dava medo em Lily. Alvo tinha certeza que o irmão tinha algum plano em mente.

A tal Tia Petúnia não demorou a descer, muito elegante. Era magra e pescoçuda, e o rosto fino e cavalar lhe dava uma aparência um tanto animalesca, não fosse a maquiagem e a pele enrugada pelo tempo. Os cabelos brancos estavam amarrados e um adorno prateado os prendia. Seu olhar demorou em Harry ao descer as escadas, se juntando ao grupo na sala-de-estar levemente aquecida pela lareira.

Alvo vislumbrava os vários retratos no console e nas mesinhas. Eram parados, e as pessoas retratadas sequer piscavam. Haviam muitas Islas acompanhadas do pai e da mãe, e em geral estavam experimentando uma boneca nova ou um farto sorvete de chocolate. Alvo pensou que os trouxas se petrificavam para tirar fotografias, até sua mãe explicar a diferença de fotografia bruxa e fotografia trouxa.

Alguns minutos de conversa se passaram, e logo a Sra. Dursley veio chamar a todos com sua falsa simpatia para a ceia natalina.

Quando o relógio à pilha da sala marcou zero hora, as duas famílias começaram a se deliciar com todas as comidas dispostas à mesa. Havia realmente muita coisa diferente para comer, e Alvo logo pôde perceber o motivo da excessiva obesidade do Sr. Dursley. A filha desprezara a comida e revirava impacientemente a pilha de embalagens natalinas que estava sob um pinheirinho rodeado de luzinhas pisca-piscas. Isla resmungava abertamente para os pais da pequena quantidade de presentes que o “bom velhinho” trouxera. A mão tentava acalmá-la, dizendo que ela ganharia o dobro no aniversário.

- E o Tio Válter, não veio? – perguntou Harry ao mordiscar um pêssego.

- Papai não está passando bem – respondeu o primo, desapontado – Nunca mais foi o mesmo depois do acidente com as brocas na Grunnings.

- Válter está passando por tratamentos psiquiátricos, não pode conviver com muita gente... Comemorações natalinas não fazem nada bem a ele... – comentou tia Petúnia deprimente.

Tiago não conseguiu esconder um risinho de satisfação, quando Isla parou de contar os presentes para tentar abocanhar uma coxa de peru todinha de uma só vez. Ao se engasgar, Tiago levou um beliscão da mãe.

- E Guida, como vai? Ainda cuida de muitos cachorros? – perguntou Harry, querendo adentrar um assunto que tornasse o sorriso da Sra. Dursley um pouco mais convincente.

- Faleceu – respondeu Duda com tristeza – Há uns cinco anos, se não me engano.

- Nossa! Mas o que aconteceu? – perguntou Gina, solidariamente, ao cortar seu bolo de frutas.

- Acidente de carro – informou tia Petúnia com amargura – Foi atropelada enquanto corria atrás de um de seus buldogues. Ela era forte, a Guida... mas não agüentou o impacto... quase mata o motorista junto...

A conversa não conseguia chegar em um ponto mais descontraído, e quando Lily convidou a filha do Sr. Dursley para folhearem uma revistinha para garotas bruxas, a Sra. Dursley logo inventou uma desculpa para separar as duas.

- Querida, olhe, você esqueceu de abrir este seu outro presente.

Parecia que Duda contara à esposa sobre o fato dos Potter serem uma família de bruxos, e definitivamente Eleonor se comportava como uma legítima Dursley. Tiago se deliciava com algumas balinhas carameladas em forma de concha, a um canto da sala; e Isla fitava o garoto com seus olhos gulosos e nunca satisfeitos.

- Mamãe, eu quero uma bala daquelas – disse ela descaradamente em alto e bom som, quando Alvo terminava seu suco de melancia.

- Tiago, querido, ofereça uma bala a Isla – falou Gina antes que a Sra. Dursley abrisse a boca. Petúnia olhava com preocupação para Tiago.

- Claro, mamãe! – obedeceu Tiago prontamente. – Espere, eu tenho uma aqui no bolso que você vai gostar...

O inconfundível risinho de satisfação de Tiago dizia tudo: iria aprontar alguma de suas travessuras.

Isla pegou a bala colorida da mão do garoto sem agradecer, abriu o embrulhinho e enfiou de uma vez na boca, sorrindo bobamente. Harry trocou olhares aflitos com Gina, e a mão de Lily foi à testa.

Tudo ocorreu muito rapidamente. A garota engoliu a bala caramelada após mastigá-la gulosamente, então em poucos segundos levou as mãos às orelhas e começou a berrar e guinchar feito um leitão faminto. Suas orelhas cresciam e tornavam-se rosadas e muito claras, tornando a forma de orelhas de porco. Isla ora chorava a altos berros, ora guinchava feito porco. A avó deu um gritinho de desespero, e a mãe foi logo acudir a filha descontrolada. O Sr. Dursley brigava com Harry, exasperado.

- MAS O QUE É ISSO? O QUE ESSE SEU BRUXINHO FEZ COM A MINHA FILHA?

- Calma Duda, vou tentar um contra-feitiço. Tenho um que é “tiro e queda”, só um pouco demorado. – Harry tentava diminuir a gravidade da situação, apesar de não conseguir esconder um breve risinho das orelhas suínas da garota-porco.

Gina estava arrasada. Largara-se numa poltrona gritando com o filho. O garoto rolava de rir, ouvindo as ameaças da mãe.

- Olha o que você fez, garoto. Vamos ter uma boa conversa quando chegarmos em casa, e muito obrigada por estragar nosso natal. – gritava ela vergonhosamente. Não conseguia olhar para a cara de Eleonor.

Alvo não pôde negar que eram realmente engraçadas as orelhas , e que provavelmente essa era mais uma das geniais e veneradas invenções do tio Jorge, mas guardou o riso para si até o fim.

Lily parecia profundamente desapontada, sentia pena da garota. Olhava para o irmão como se ele fosse um dos maltrapilhos do bar de Polkiss, e aprovava cada palavra da mãe.

O pai de Alvo ficou quase dez minutos “consertando” as orelhas de Isla, enquanto ouvia os desaforos do primo e sua esposa e, ao terminar, foram embora sem se despedirem.

Alvo percebera que era importante para seu pai se dar bem com o primo, e acontecera justamente o contrário. Gina estava escarlate de vergonha e raiva, e, mais tarde, Alvo pôde ouvir de seu quarto, lá em sua casa, os gritos do irmão. A surra de sua mãe deixaria marcas em Tiago, embora este não fosse mudar tão cedo.

Na intimidade de seu quarto, Alvo pegou a bela varinha, que permanecera o tempo todo no bolso do terno, e uma felicidade muito satisfatória varreu seu rosto, ao som dos gritos do irmão no andar abaixo.

Poucos minutos depois, Alvo pôde vislumbrar momentos de terror para o irmão. Via o grifinório em brasas, numa grande fogueira, e ria muito satisfeito de sua desgraça. Os gritos de Tiago o acompanharam a noite toda, até Alvo Severo acordar, derrubando a varinha no chão e se dar conta de o que desejara para o próprio irmão.

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