Alvo Severo e o Segredo da Víbora (Capítulo 12)

Capítulo XII – Chá na cabana

A repercussão no dia seguinte foi mais irritante do que Alvo pôde imaginar. Alguns determinados alunos cuidaram para que a notícia chegasse ao ouvido de todos os que estavam no castelo, e Alvo foi visto mais de três vezes discutindo com os quadros nas escadas que ralhavam com o garoto, recomendando que ele comportasse bem na escola.

- Vamos logo Al, o professor Lupin já está na sala esperando a nossa turma – Lysa disse ao garoto ao dar de cara com ele quando discutia com mais um quadro, desta vez o de uma velha fofoqueira com um ferret no colo. – Se você quiser, não tocamos no assunto hoje, mas você não vai nos evitar mais, não é?

- Tudo bem, mas não quero ouvir mais ninguém inventando histórias no meu ouvido! – Alvo se rendeu, pois não agüentava mais ficar sem conversar com os melhores amigos. Deu um breve sorriso enviesado muito bem correspondido e os dois entraram para a aula.

Alvo se divertiu, transfigurando espetos de churrasco em pregos metálicos, e obteve os melhores resultados da aula de transformação. O professor ficara realmente impressionado com a facilidade que Alvo tinha para produzir os feitiços da matéria. Escórpio, Lysa e Anastácia só conseguiram com a ajuda do garoto, apesar de que o de Escórpio mais parecia um espeto de metal do que um prego.

Rose não falou com Alvo durante a aula. Cochichou em segredo até o fim com a amiga Patil, e sequer conseguiu mudar de cor o seu espeto.

Na dupla aula de poções, foi o dia de o professor encher a paciência de uma garota gordinha e inteligente da lufa-lufa com perguntas sobre seus parentes. Seu nome era Artemísia Sprout, e pelo que o professor deixou bem claro para todos, sua avó era excepcional com o cultivo de ervas, tendo até mesmo lecionado em Hogwarts por um tempo.

Após o professor ter dispensado os alunos, a garota até conversou um pouco com Alvo, dizendo que não suportava as perguntas do professor. Alvo concordava com tudo, pois tentava ao máximo evitar nos últimos dias estar muito próximo de Slughorn, para não ter que entregar o formulário sobre seus pais.

Artemísia estava com as unhas repletas de terra, e seu cabelo acinzentado era um tanto desarrumado, mas parecia uma pessoa muito simpática. Foi uma das poucas que conversou com Alvo sem mencionar o ataque da varinha, e ela se juntou ao grupo até a hora do jantar, quando se despediu para ir à mesa da Lufa-lufa. Ao sentar-se, metade dos lufos aglomeraram-se em volta de Sprout para perguntarem sobre Alvo.

Até cartas chegaram, mais tarde, dos tios e pais de Alvo, perguntando o que ocorrera, mas este ignorou a maioria, respondendo só a dos tios Ronald e Hermione e a dos pais. Escreveu informando que tudo não se passara de um mal entendido.

Entrementes, Lysandra começou a ser conhecida no colégio como Víbora, o apelido dado hostilmente por Rose à garota, na aula de feitiços. As pessoas chamavam-na assim, e ela aceitava, e parecia gostar. Logo tornou-se mais popular entre os alunos do mesmo ano.

Numa nublada tarde de sexta–feira, ao regressar da aula de feitiços para a Sala Comunal com os amigos, Alvo leu num mural de recados um bilhete que informava a todos sobre a comemoração de Halloween que ocorreria em menos de uma semana. Os sonserinos animaram-se bastante, até lerem o finalzinho do artigo, onde dizia que a festa seria organizada pelo professor Horácio Slughorn, e que haveriam os mais diversos convidados: desde ex-alunos da escola até chefes de departamentos do Ministério. O grupo de Alvo partiu para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas numa discussão animada sobre os métodos que utilizariam para esconder Alvo do professor.

- Hoje vamos praticar um pouco o feitiço que aprenderam na última aula do professor Flitwick! Peguem suas varinhas, e abram na página dezesseis para aprenderem os passos de uso do feitiço Lumus. – dizia a professora para a turma animada com a aula.

A professora acenava com a varinha para as janelas, que fechavam a cada floreio. A sala ficou escura, e todos os alunos foram seguindo os passos de pronúncia, posição e movimento de varinha até conseguirem irradiar luz da ponta de cada uma. Alvo não conseguira o efeito na aula de feitiços, porém teve facilidade na aula da professora Bones, e sua luz foi tão intensa ao bradar a fórmula mágica (“Lumus”) que a luz ofuscou a todos, iluminando mais do que qualquer outro feitiço dos demais alunos.

- Caramba Al! Você foi incrível! A minha é tão fraquinha... – indignava-se Escórpio ao fim dos aplausos que a professora pedira para o garoto.

- Eu também fui bem – disse Ana animada – mas não consegui manter por muito tempo...

- Ora, mas é tão simples... – insistia Alvo, rindo-se dos amigos de algo tão fácil onde não havia maiores complicações e que tanto dava trabalho para os colegas. Lysa ficava nervosa por não conseguir nem um fiapo de luz. “Calma, eu te ajudo”, confortava o amigo, rindo-se.

Não tardou para chegar a tão comentada data de Halloween do ano, onde Slughorn comemoraria ao lado de todos os seus velhos amigos no Salão Principal de Hogwarts. Alvo recebera uma carta de seu pai com alguns doces de manhã e um pedido: para Alvo fazer uma visitinha ao meio-gigante Hagrid, que foi um velho amigo seu.

Alvo sabia que era um professor da escola, porém eles nunca se viam, pois a maior parte do tempo, Alvo estava com os amigos na Sala Comunal da Sonserina. O garoto ia pouco para os terrenos, e conseqüentemente quase não via o simpático Hagrid. Nunca conversaram, pois Alvo mal o conhecia, então foi um tanto difícil convencer os amigos a irem para a cabana próxima à Floresta Proibida, em frente à pequena plantação de abóboras sem abóboras.

As abóboras que Hagrid cultivava foram todas retiradas para serem usadas na decoração de Halloween do castelo. Muitas delas estavam em suportes de pedra nos corredores, com uma vela no interior e toda cortada com as formas da boca, nariz e olhos. Como era manhã, as velas estavam todas apagadas. Só acenderiam no início da comemoração.

As abóboras das masmorras já estavam todas acesas, pois nos corredores subterrâneos era sempre escuro e frio. A beleza bruxuleante da luz amarelada encantava o espírito bruxo do garoto, e ele mais uma vez sentia que estar em Hogwarts era estar no lugar mais maravilhoso e fascinante de todo o mundo.

- Como é mesmo o primeiro nome desse amigo do seu pai, Al? – perguntava Escórpio, ao subirem as escadinhas para deixar as masmorras. Não parecia tão interessado em fazer amizade com Hagrid.

- Rúbeo, Corp; e meu pai garantiu que ele é uma pessoa muito simpática. – respondeu Alvo pela enésima vez.

- Se pode-se chamar de pessoa mesmo, né... – falou Lysa, um tanto displicente. Era a que menos aceitava a idéia de entrar numa cabana de um meio-gigante. – Olha Al, eu já tive contato com um gigante uma vez, e eles não são muito hospitaleiros não. Meu pai me levou uma vez para mim ver um. Meu pai saiu quase morto, e eu, apavorada.

- O que seu pai queria com um gigante, Víbora? – perguntou Alvo ignorando a voz enojada que ela falava dos gigantes.

- Precisava da ajuda deles, não sei exatamente para o que, mas posso dizer que não foi para uma coisa boa. Meus pais não me dizem muito... Eles fazem coisas estranhas, sabem. Têm amigos estranhos... Acho que minha mãe é assim por causa de meu pai... Ele a trata mal, e a minha família não é muito harmônica, sabem... – então ela se virou confusa para Alvo e adicionou – Você me chamou de Víbora! Você não tinha me chamado assim antes.

- Bom, é assim que todos te chamam, não é mesmo? – explicou Alvo – Se você não gostar tudo bem, eu não te chamo mais assim.

- Me incomodar? De modo algum. Gosto de cobras, e Víbora me parece um bom apelido. Inclusive Corp, eu gostaria muito de te contar uma coisa, mas não sei se devo.

- Claro, pode dizer, pode confiar na gente. – Escórpio estava muito curioso, mas Lysa estava receosa. Desciam uma costa íngreme rumo à cabana, próximo a um grupo de garotos que levavam bronca de Molly, a monitora-chefe da Corvinal, prima de Alvo. O garoto deu um aceno breve para a corvina, que nem deu muita atenção.

- Bom, uma vez ouvi minha mãe falar de seu avô. – disse Lysa, receando falar demais.

- O que sua mãe sabe sobre o meu avô? – perguntou Escórpio muito receoso.

- Que ele é um traíra desgraçado... de acordo com ela. – Lysa focava o amigo com seriedade, com seus olhos negros.

- Eu conheço minha mãe, e quando ela está infeliz com alguém, é bom sair de perto. Já a vi duelando até com meu pai, e ela é páreo duro. – Lysa parecia não gostar muito da mãe. Falava como se ela apresentasse perigo a todo o momento.

- Seus pais brigam muito? – perguntou Anastácia com cuidado.

- Ah, brigam sim, e como... Meu pai não aceita nada que minha mãe faz. Eles sempre vêm com uma história esquisita sobre um amo. Minha mãe chama alguém de amo, e isso irrita meu pai.

- Se você quiser, Lysa, eu tenho uma proposta para fazer pra você! – disse Escórpio mais descontraído.

- Proposta? –perguntou Lysandra, confusa.

- Enviei uma carta ao meu pai perguntando se poderia levar alguns amigos para passar o Natal com a gente, lá na mansão, sabem... Iria ser realmente legal se vocês fossem!

- Brilhante Corp! – disse Ana animando-se – Ótima idéia! Meu pai pode até resmungar um pouco, mas tenho certeza que com um pouco de cuidado minha mãe acaba deixando!

- Meus pais também deixariam! Quer dizer, ele sempre deixa o Tiago ir passar temporada com os amigos. – disse Alvo.

Agora todos olhavam animados para a morena. Seus olhos escuros brilharam, e Alvo percebeu uma pequena lágrima querendo descer por seu rosto, ela virou a cara envergonhada rapidamente, então respondeu olhando para o chão, secando os olhos.

- Meus pais... meus pais nunca deixariam. Minha mãe sequer queria me ver em Hogwarts. Disse que era arriscado para as coisas misteriosas que eles fazem. Meu pai brigou feio com ela, e... e... Saiu sangrando... Consegui convencê-la que iria ser a pessoa que ela considera perfeita e que não ia abrir a minha boca para ninguém. Ninguém. – agora seu rosto afundava em lágrimas, e ela estava descontrolada. O medo tomou conta do seu rosto magro - E não me perguntem mais nada!

- Lysa, nós somos os seus melhores amigos, queremos o seu bem, estamos com você para tudo. Tudo. – respondeu Alvo. Tentou tocar em Lysa, mas esta o recusou e sentou em uma pedra próxima.

- Vão sem mim! Não quero mais ver gigante algum! – gritou com os amigos.

- Lysa, o que importa é que você está aqui, e nós somos os seus amigos! – respondeu Ana preocupada.

- É FÀCIL DIZER ISSO – Lysa se descontrolou. Felizmente não havia ninguém por perto além de uns insetos e um besouro negro passeando numa folha. - Você não cresceu vendo o que eu vi! Você não viveu dez anos da sua vida presa em uma casinha maldita, cheia de gente como os amigos de meus pais. Você não viveu dez anos com medo de ver a mãe matar o próprio pai! Aqui em Hogwarts, tudo que tenho é vocês. Vocês e uma maldita diretora que me chama toda semana tentando me convencer a falar sobre minha família! Não agüento mais! Muitos prefeririam se mandar, desaparecer. Aposto que todos vocês cresceram felizes ao lado de seus pais, que sempre ofereceram conforto e carinho... Quer saber mais? – Alvo não podia imaginar como Lysa estava se sentindo. Apesar de ter brigado muito na família com o irmão maior, sempre foi amado por ele e por todos os outros - Nunca saí de casa. Eu cresci presa na minha casa. Se é que aquilo é uma casa...

- Oh Lysa... Você nunca nos contou... – disse Alvo. Seus olhos estavam levemente molhados.

- E nunca deveria ter contado. Nunca. – Lysandra secou o rosto desajeitadamente com as mãos, se virou e voltou para o castelo.

Nenhuma palavra foi dita até o grupo chegar à cabaninha de Hagrid. Alvo bateu na porta, e ao ouvir o “Quem está aí?” do meio-gigante, respondeu rapidamente.

- Sou Alvo Severo Potter, vim te visitar a pedido de meu pai, professor Hagrid.

A porta se abriu rapidamente e um ofegante Hagrid surgiu à frente da cabana.

- Alvo! Alvo Potter, eu esperava uma visita sua já a algum tempo garoto! Seu irmão está sempre aqui, embora da última vez tenha deixado uma bombinha de bosta no meu sofá... – Hagrid recebeu Alvo calorosamente -Vamos entre, garoto, o que está esperando. Podem entrar vocês também, por favor. São seus amigos Alvo?

- Sim. Essa é Ana, quer dizer, Anastácia. E esse é Escórpio.

- Olá professor Hagrid! – disseram os dois juntos. Ana estava excitada, Escórpio entediado.

- Ah sim, Escórpio! Seu pai uma vez me deu problemas com um hipogrifo. Em outra ocasião acabou pagando detenção na floresta proibida. Fez isso inclusive junto com o pai de Alvo, sabia... – Hagrid não falava tão animadamente com Escórpio do que com Alvo, e um risinho satisfeito cobriu seu rosto enorme ao ver a surpresa que causou em Malfoy ao dizer que o pai pagara detenção na sombria Floresta Proibida.

- E aí, como vão as aulas, garotos? – perguntou Hagrid mudando de assunto rapidamente. – Sentem-se, vou preparar um chá.

- Estou louca para ter Trato das Criaturas Mágicas! – respondeu Ana imediatamente. Estava muito ansiosa para conhecer Hagrid.

- Você não é Scamander? Parente do maior pesquisador de criaturas mágicas, suponho...

- Sim! Meu pai é bisneto dele! Vocês usam até hoje o livro do meu trisavô, não?

- Ah sim, usamos até hoje... O professor Dumbledore foi amigo de Newton Scamander por um tempo... Você é descendente de uma pessoa brilhante! Sua mãe também sempre teve especial interesse nas criaturas mágicas... Porém poucas das que ela comentava em conversas eram do meu conhecimento...

- Conte-nos mais, Hagrid, sobre nossos pais! – disse Alvo animando-se mais agora.

- Ah Alvo, o quinto ano de seu pai foi ótimo... Lembro-me como se tivesse sido ontem que seu pai fugiu com um grupo, juntamente com a senhora Lovegood e mais alguns amigos montados nos nossos testrálios...

O trio passou a tarde ouvindo as histórias de Hagrid, e Escórpio animou-se bastante com as histórias dos explosivins, e logo a noite chegou, e eles tiveram de partir para a festa de Halloween. Hagrid foi com o trio para o castelo, que já estava muito cheio. Parecia haver mais amigos excêntricos de Slughorn do que alunos, e eles mais uma vez renderam Hagrid a um canto para uma conversa animada junto com um grupo de lufos alegres e contagiantes. Artemísia estava no grupinho, e de vez em quando sorria para Alvo. Chegou a perguntar porque Lysa não estava com eles

Ficaram contando piadas e histórias de terror de Halloween noite adentro, e só foram interrompidos quando Freddy e Tiago animaram magicamente uma trupe de esqueletos plásticos dançantes atraindo a atenção até da diretora, que chegou a elogiá-los pelo brilhante desempenho e uso do feitiço complicado para animar objetos.

A Víbora estava sozinha, na Sala Comunal da Sonserina, e provavelmente fora a única a não comparecer.

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